“O primeiro dever da inteligência é
desconfiar dela mesma!”
Albert Einstein
É Domingo e os corredores do centro comercial estão à
pinha. As famílias passeiam pelas lojas na expectativa que alguma aquisição lhes
recheie a satisfação ou colmate a necessidade, ou tão só e simplesmente, porque
precisavam de sair de casa, pelo menos, para distrair.
Ao fundo numa loja, mãe e pai fixam o olhar na criança
que teima em não querer vir embora. A mãe avança em tom firme:- Já te avisei! Queres apanhar?
O pai confirma a atitude assumindo a mesma postura de
comando!
A criança levanta-se chorosa e joga-se
às pernas da mãe, porque certamente já sabe ‘o que lhe acontece' se
desobedecer às suas ordens. Imediatamente, a mãe tira dali os bracinhos,
empurrando-os para a frente e repete em voz alta: - Toca a andar! Não estou
para aturar má-criações. Ok?
No outro canto, outra criança desarruma as prateleiras
por onde passa, enquanto os pais, de uma forma algo cínica porém simpática e
silenciosa, prometem presentear a sua saída da loja.
Ao lado, uma mãe imediatamente dá uma 'palmadita' no rabo
da sua filha com pouco mais de 1 ano de idade, assim que esta atira
inocentemente os livros disponíveis para o chão, e segue com ar
zangado: - Não! Não! E não!...
Em 3 minutos, assistimos a 3 acções destruidoras de autoconfiança
e de respeito mútuo:
- Como
confiar em quem se impõe pela força, pela chantagem, pelo medo, pela falta de
resposta digna e sensata, que as leve à melhor conduta?
- Porquê
que as crianças nos devem 'obediência'? Não serão as crianças também pessoas
livres?
- Como
respeitar quem não considera os nossos motivos em relação a determinado
acontecimento?
- Deverão
respeito a quem as inferioriza ou minimiza?
Em 3 minutos, assistimos a uma das causas fundamentais de
violência na sociedade. A violência doméstica assume aqui os seus primórdios, as
suas mais ténues nuances, as réstias de um passado castigador que teima em não
largar...
“O mundo é um lugar perigoso de se viver, não
por causa daqueles que fazem o mal, mas sim por causa daqueles que observam e
deixam o mal acontecer.”
Ibidem.
A palmada é ilegal... porém continua a ser
incoerentemente consensual!
Ainda muitos adultos que tendo 'crença' na
sua eficácia - devida à quebra instantânea do mau comportamento e libertação
das suas próprias tensões - não ponderam sobre as suas consequências negativas
mais abstractas e tendem a permanecer na dúvida ou sem
justificação quanto à incongruência das suas convicções sobre a não- violência
quando externa a este assunto, dito erradamente, como privado ou familiar.
Esta intromissão de terceiros é, numa
primeira abordagem, convictamente repugnada, e constantemente censurada por
esta homogeneidade de comportamento socialmente aceite e hereditariamente intrínseco na
generalidade das famílias portuguesas.
Facto que demonstra que ainda existe muita
violência gratuita por todo o lado.
Em analogia, reflectimos e percebemos que a
violência doméstica entre o casal, é sustentada sobre os mesmos parâmetros e os
mesmos fundamentos.
E se pensarmos melhor, temas como o Bullying,
eram igualmente desvalorizados e ignorados há bem pouco tempo atrás.
Contudo continuamos a ouvir muito: - “São
crianças. São cruéis.”
... serão?
Porque não se inibem de dizer a verdade,
serão mesmo?
Cruéis por afirmarem um qualquer facto? Ou
tornam-se ingenuamente cruéis, por falta de conduta de princípios morais, por
incentivo ou mesmo, por isenção na desmistificação de preconceitos,
vindos de nós, adultos?
Quão natural era ser educado a discriminar o outro pela sua cor e quão contraditório era vestir a sua pele?
Actualmente, custa a crer que este
comportamento era seguido por uma boa parte da nossa sociedade. Hoje, o racismo
é apontado como motivo de exclusão e os que não abdicaram dos seus ensinamentos
tendem a desvanecer entre gerações!
E mais progressos se avizinham!
Outro conceito revolucionário é o 'Rankism'.
Idealizado e desenvolvido por Robert Fuller e
ainda pouco mediatizado por ser muito recente (2003), designa-se como “o comportamento
abusivo, discriminatório, ou de exploração em relação às pessoas, motivado por
um cargo ou uma hierarquia em especial".
Engloba noções como o sexismo, racismo, abuso
de poder, assédio sexual, xenofobia, elitismo, ou qualquer acção repressora de um forte sobre um
fraco, e vem separar a linha entre o poder hierárquico meritório e o abusivo, que
é muito ténue, mas facilmente inteligível quando se denota qualquer tipo de
humilhação induzida por um terceiro.
Em suma, o combate ao 'Rankism' é a
derradeira luta pela dignidade humana e que dita que o respeito deve ser
mútuo e não imposto.
Ao longo da vida em sociedade, o Homem
conseguiu evoluir positivamente, arriscando na unificação do pensamento e renunciando
motivos supérfluos como diferenças de cor, de sexo, de religião, e no nosso
caso em especifico, de geração.
A disciplina positiva educa a criança nesta
base de igualdade de direitos, sem distinção geracional.
Somos tão espontaneamente aptos às mudanças
tecnológicas, à aceitação de novos conceitos de vida, mas ainda não nos
inteiramos da forma como as nossas crianças são inconsequentemente fragilizadas
no decurso do seu crescimento e formação de carácter.
As crianças são ainda vistas como pseudo-pessoas,
com voz inativa, abafada, ignorada, sem opinião... Como também um dia foram as
mulheres, como também um dia foram as pessoas de cor, como também um dia foi
todo um povo nas mãos do absolutismo monárquico e eclesiástico...
A mudança de paradigma leva o seu tempo...
Mas acontece!
Já dizia Einstein...
“A mente que se abre a uma nova ideia jamais
voltará ao seu tamanho original.”
Jenny da Silva.
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