domingo, 14 de setembro de 2014

Juntos para cooperar




É crucial, ao longo do processo moroso de educar, consciencializarmo-nos e perguntarmo-nos frequentemente: "Será que estou a ser motivador para com a criança?"; "Estou a dar-lhe ferramentas pessoais e sociais, para que possa respeitar o próximo e cooperar nas tarefas diárias, dentro e fora do núcleo familiar?"

Não há dúvidas que é bem mais fácil quando todos estão dispostos a cooperar. Há maior produtividade em qualquer trabalho de equipa quando não há hostilidade e pessoas isoladas (mesmo estando em grupo) em prol do mesmo objetivo.
A família, enquanto agente de socialização primário, deve assumir uma postura assertiva e correta na transmissão de exemplos reais de cooperação. Deve salientar também os dois lados paralelos (citar uma situação na qual contou com a colaboração de outrém e, paralelamente, dar-lhe o mesmo exemplo sem a colaboração) e permitir que a criança percecione e expresse de qual das duas situações é a mais respeitosa para as partes envolvidas.

Para ganhar a cooperação, experimente ser gentil e carinhoso. Envolva a criança com palavras amáveis e não tenha receio em dizer o que sente: "Gosto quando colaboras. Sei que posso contar contigo, filho!".
Por exemplo: se uma criança entornar o leite em cima da mesa, uma consequência lógica seria limpar. Esse tipo de situações acontecem a qualquer um e não viabilize nem opte pelos sermões e castigos. Crie, atempadamente, um compromisso de cooperação com a criança e questione-a, gentilmente, acerca do que precisa fazer sobre o leite entornado, para que a cozinha volte a estar limpa e arrumada.
Não tente conquistar a cooperação da criança sob um clima de repressão e de hostilidade. Palavras agressivas, tais como: "Entornaste o leite! És tão desajeitado. Limpa imediatamente!", são inibidoras do respeito e da vontade de querer fazer mais e melhor. É incrível, como muitos adultos julgam influenciar positivamente a criança após terem criado um ambiente de hostilidade em vez de proximidade e confiança.


Tome nota dos 4 passos para ganhar a cooperação e guarde-os como lembrete:

1. Valide os sentimentos da criança e demonstre compreensão;
2. Não julgue nem dê sermões. Mostre empatia. Empatia não é sinónimo de concordar ou tolerar tudo. É mostrar que compreende a perceção e o ponto de vista da criança. Partilhe momentos em que você se sentiu ou se comportou de forma semelhante.
3. Partilhe os seus sentimentos com abertura, assim como os seus pontos de vista e, sobretudo, adote atitudes amigáveis. Crie conexão para que a criança se sinta preparada para o ouvir.
4. Convide a criança a pensar em soluções. Questione se a criança tem uma solução para resolver/evitar o problema futuramente, e se não tiver, ofereça algumas sugestões. Faça uma lista com as soluções encontradas e opte pela mais útil para ambos.

Nunca desista de ganhar a cooperação.



Filipa Silva

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Compreender a Disciplina Positiva: Ganhar as (às) crianças!



   Como pais/educadores, todos temos dúvidas de como compreender os nossos filhos/educandos, o seu comportamento, em particular, o que nos leva muitas vezes a adotar métodos disciplinares que a longo prazo tornam-se ineficazes e pouco produtivos.
   Interessa-nos então perceber um pouco do comportamento humano em geral, pois enquanto adultos, temos tendência a educar com base na nossa capacidade de controlo, isto é, somos o elo mais forte (supostamente) e atuamos através da punição quando as crianças não fazem aquilo que é esperado (por nós), levando a que estas cresçam com uma auto-estima e valorização pessoal reduzidas.

   Numa parentalidade positiva atuamos de forma a “ganhar” as crianças e não às crianças….Já diz o ditado, se não podes com eles junta-te a eles (não deixa de ter um fundo de verdade). Podemos e devemos trazê-las para o nosso lado de uma forma construtiva, respeitosa e digna (aliás, como com qualquer ser humano ou até animal).

 Quando estabelecemos padrões educativos baseados na sobreposição de força, seja ela física ou psicológica, transmitimos e fazemos sentir nos mais pequenos uma sensação de fracasso, pois sabem que não podem competir connosco, que é uma batalha sempre ganha por nós, o que gera e gerará ao longo da sua infância e até vida adulta um comportamento de passividade e/ou rebeldia aliados a uma auto-estima baixa e sentimentos de desvalorização.

   Mas, hoje em dia falamos tanto de auto-estima e auto valorização, mas o que são realmente?

   Muitas vezes caímos no erro (ou ilusão) de que podemos “dar” auto-estima às nossas crianças e até a nós próprios, criando jogos com estrelinhas de mérito, autocolantes, o que até são técnicas inofensivas e divertidas, mas que em pouco as ajudam a criar e construir a sua auto-estima, correndo o risco que os nossos filhos a façam depender desses mesmos jogos, da avaliação do que os outros e como consequência dos atos e opiniões alheias em vez dos próprios. Podem assim tornar-se seres passivos que vivem para agradar aos outros, pois são estes são o barómetro do seu bem-estar, em vez de serem elas próprias a construir e a decidir a sua forma de estar, os seus sentimentos de amor e valor próprio positivos… Faz-vos sentido?

   Devemos às nossas crianças nada menos do que um ensinamento de como serem avaliadoras delas próprias em vez de dependerem das avaliações/opiniões exteriores. E como fazer tal coisa?

Deixando-as errar, isso mesmo, os erros são belas oportunidades de aprendizagem, pois as crianças (apesar do que muitos pensam) têm a capacidade de pensar por elas próprias e chegar a soluções quando deparadas com problemas. Ao darmos esta oportunidade e a possibilidade de encontrar uma solução, demonstramos que sim, elas podem e conseguem ser resilientes quando deparadas com adversidades que sentem e sentirão ao longo das suas vidas e desenvolvimento. Elas precisam de pensar pelas suas próprias cabeças, experienciarem um sentimento de pertença, que fazem parte e são um elemento importante e significante da família, escola, etc… Precisam de se sentir precisas e úteis e que têm um papel a desempenhar.

    A auto-estima e Auto valorização positivas fazem-se com encorajamento! Como encorajar? Simples…. Compreendendo o seu ponto de vista! Difícil? É só uma questão de prática…

   Uma vez que as crianças se sintam compreendidas, escutadas, estão mais disponíveis e abertas ao diálogo, a pensar a nossa perspectiva dos acontecimentos e das coisas, cooperando na busca de uma solução para os problemas. E uma das lições a reter para nós adultos é que, elas, as crianças, estão sempre mais recetivas a ouvir depois de terem elas próprias se sentido ouvidas e validadas na sua visão do problema. Vale a pena pensar nisto.

   Analisem se as vossas crianças estão a ser ouvidas, validadas nos seus problemas, pois tenho a certeza que todos nós muitas vezes já nos sentimos incompreendidos e creio que reconhecem quais os sentimentos que em nos desperta(ra)m… Portanto, ouçam as crianças de uma forma genuína e sincera, façam com que o(s) problema(s) e a sua solução sejam tarefas que façam crescer e respeitem ambas as partes!

Brígida Henriques




terça-feira, 26 de agosto de 2014

Limites Saudáveis


Porque é que disciplinar, na maioria dos casos, é tão frustrante?

Qual é a distância que temos que percorrer até que as crianças se comprometam a respeitar os limites?

Todos nós reconhecemos a necessidade de impor limites na educação dos nossos filhos e existem muitas formas de fazê-lo.
Regra geral, decidir sobre como deve ou não uma criança comportar-se, não é o nosso maior obstáculo.
O problema está em como as fazemos obedecer a essas decisões.
Diariamente, tomamos posições que os nossos filhos não gostam, como por exemplo: não lhes compramos um brinquedo sempre que pedem, dizemos basta a demasiado tempo em frente à televisão, não os deixamos ficar até mais tarde porque chegou a hora de ir dormir.
Raras são as vezes em que existe vontade de cumprir os limites, apesar de todos já os conhecerem de cor e salteado… e a espiral das frustrações não pára de aumentar.

Porquê será que isto acontece?

Muitos pais continuam a ter a tendência de impor as suas decisões unilateralmente ou, simplesmente, deixar passar.
Depois de um dia estafante de trabalho, também nos custa ter que cumprir com as nossas obrigações e não há quem consiga seguir à risca, todos os dias, o plano que estava traçado.
A vida é imprevisível em diversas situações, especialmente quando a família cresce.
Contudo, sabemos que deve existir uma certa normalidade em seguir um ‘regime’ mesmo que isso seja a última coisa que nos apeteça fazer, até porque se não o fizermos, ninguém o fará.
Já as crianças, sempre que podem, tentam escapar das suas responsabilidades ou das suas próprias frustrações, seja pelas birras, amuos ou chorinhos. Este comportamento perpetua-se quando se apercebem que após alguma insistência, os pais acabam por fazer o ‘serviço’ mesmo que os tenham feito saltar a tampa.
Em algumas circunstâncias, somos tão óbvios no desespero, que chegamos a ditar consequências implacáveis… sem uma ponderação razoável entre consequência e grau de desobediência.
 “Este quarto está uma desarrumação! Se não estiver em ordem daqui até ao final do dia, será melhor pegar em tudo o que estiver fora de sítio e doar a uma instituição de caridade. As crianças dizem “sim, ok, entendi”. O quarto permanece desarrumado durante mais dois ou três dias e (surpresa nenhuma) os brinquedos não foram retirados e não, não tínhamos intenção nenhuma em doá-los a ninguém!
Os exageros são de toda a ordem e feitio: “Temos de ir já embora senão nunca mais voltamos a este parque!” Ou “Tens de ir tomar banho senão não vamos à casa dos primos”, quando está combinado há semanas que iriam lá jantar.
Estas situações podem ser emocionalmente muito desgastantes e por isso, tendemos a agir com permissividade, a desistir ou a prometermos coisas demasiado drásticas, que sabemos de antemão que não iremos cumprir.
Mas para que os limites tenham eficácia, devemos dizer (apenas) o que tencionamos realmente dizer e cumprir com a nossa palavra. Ou seja, precisamos de pensar antes de falar e para tal, precisamos de ter tempo para acalmar e considerarmos  as soluções racionalmente. Não devemos definir uma consequência que sabemos que não seremos capazes de acompanhar, ou que sabemos que não estamos a ser razoáveis porque estamos tomados pela raiva ou frustração.

Todos nós respeitamos melhor as regras ou limitações, se o processo de decisão tiver a participação de todos os interessados, num espírito de cooperação.

O maior risco em atribuir regras é quando não nos asseguramos se serão justas para todos.
Só com o sentimento de justiça a aposta será segura. Acredite ou não, uma das formas das crianças aprenderem a confiança é com limites devidamente justificados e consistentes para serem levados adiante.
As crianças sabem no fundo dos seus corações que, quando os pais seguem as decisões com dignidade e respeito, a confiança fortalece, precisamente, porque o que dizem podem cumprir.

Definir consequências com antecedência e ponderação, de preferência com a participação da criança, é a melhor estratégia. Em seguida, é só seguir com dignidade e respeito mútuo.

Se a criança deixar de arrumar os seus brinquedos, por exemplo, podemos concordar que seremos nós a apanhá-los e colocá-los numa caixa, numa prateleira alta por dois dias.
Um intervalo curto de tempo. Aliás, só precisa ser o suficiente para obter a devida atenção e mostrar o seu ponto de vista. Demasiado tempo levará a criança ao desânimo ou a esquecer o que fez de errado em primeira mão. Sim, ela muito provavelmente vai ficar enraivecida, lamentar e implorar. Mas nós, adultos, precisamos manter a calma, seguir adiante, e quando voltarmos a ceder os brinquedos, pedimos gentilmente: "O que precisas de fazer para mantê-los?"

Seguir adiante com o acordo é uma ferramenta poderosa paternidade, mas apenas eficaz quando o fazemos sem sermões, provocações, ou raiva.

Podemos ser gentis e firmes ao mesmo tempo… demonstrando o bom exemplo, e as crianças poderão respeitar os nossos pedidos e assumir as suas responsabilidades.
Mostrar empatia, ao mesmo tempo que damos sinais de que estamos dispostos a cumprir com a nossa palavra .

Pergunte à criança: "Qual foi o nosso acordo?“

Jenny da Silva

sábado, 16 de agosto de 2014

Apostar na curiosidade como um elo de afectividade.



Na rotina do quotidiano, deparamo-nos com sucessivas situações e acontecimentos que nos levam a escolher e a decidir. Estamos permanentemente a optar! Decidimos pelo que, segundo as nossas convicções e ideais, nos faz sentir mais felizes e realizados.

É na infância que surgem as primeiras situações desafiantes, nas quais as crianças precisam de definir o que fazer ou como reagir e, consequentemente, percecionar o que causou e quais as consequências dos seus comportamentos ou das suas escolhas.
É necessário fornecer ferramentas às crianças que lhes permitam desenvolver a capacidade para tomarem decisões conscientes, sensibilizando-as para o respeito pelos demais. Não menos importante é permitir que as crianças possam pensar e decidir o que fazer por si próprias e que possam, assim explorar as consequências das suas escolhas.

- Como poderemos desenvolver essa capacidade nas crianças?

É urgente travar a necessidade que sentimos em transmitir as informações, os factos e as regras que as crianças têm que cumprir à risca, como por exemplo: lavar aos dentes; arrumar o quarto; fazer os trabalhos de casa; alimentar o cão, etc.
O que acontece, muitas vezes, é que esse diálogo dá lugar a um monólogo, no qual as crianças "desligam-se" da conversa porque lhes soa a acusação e a obrigatoriedade, tornando-se num agente passivo sem terem a oportunidade de assumir um papel preponderante na tomada de decisões ou nas soluções dos problemas familiares. É muito frequente os adultos dizerem às crianças o que aconteceu, como aconteceu, o que têm de fazer e como o devem fazer.

- Então, como podemos ser mais respeitosos com as crianças, sem recorrer ao hábito como de "encher-lhes" a cabeça de conhecimento de forma desajustada?

Em primeiro lugar, temos que acompanhar e orientar as crianças na tomada das suas decisões', sejam elas quais forem. É importante não culpar, julgar ou atribuir uma consequência punitiva, como os castigos físicos (a palmada) e psicológicos (palavras agressivas). Tendo isso em consideração, é preciso fazer com que as crianças percebam e assumam as consequências das suas escolhas.
É muito mais respeitoso quando os adultos se interessam de verdade em se relacionar e dialogar com a criança por meio de questões com uma conotação de curiosidade.
Perguntar ajuda a pensar e a mecanizar ações que, por sua vez, vão levar à perceção das respetivas consequências.

Vejamos os seguintes exemplos:
 - A mãe diz ao filho: "Vai já lavar os dentes!". O filho retorquiu e tende a adiar esta tarefa como resposta à imposição da mãe.
 - A mãe pergunta ao filho: "O que precisas de fazer para não ficares com os dentes sujos?". A pergunta serviu como um lembrete carinhoso e a criança, sorrindo para a mãe, foi mais determinado a executar a tarefa.


Entrar no mundo da criança não será mais valioso do que bombardeá-la com os "porquês?".
Na generalidade, o "porquê" remete para um tom acusatório e deixa a criança numa posição defensiva.
Um outro exemplo é o de uma criança de 11 anos que faltava sistematicamente às aulas. A mãe, ao corrente da situação, sentiu-se tentada a confrontar o filho e atribuir-lhe uma consequência punitiva, como ficar sem TV ou proibir-lhe de ir ao computador por um período de tempo. Em vez disso, decidiu dialogar com o filho por meio de perguntas curiosas para dar-lhe a oportunidade de explorar a consequência de não cumprir com os deveres escolares. Começou por lhe perguntar: "O que pretendes para a tua educação?"; "O que achas que vai acontecer ao continuares a faltar à escola?"; "Como podemos resolver este problema em conjunto?".

Sempre que existir a possibilidade de fazer perguntas curiosas, é de sublinhar que o adulto deve mostrar-se interessado no ponto de vista da criança e assumir que os erros são ótimas oportunidade para todos aprenderem. Deve, ainda, criar um ambiente tranquilo e convidar a uma conversa de confiança, entre ambas as partes, propiciando uma maior proximidade e conexão, sem esquecer de verbalizar a mensagem do amor.


Filipa Silva

sábado, 7 de junho de 2014

Reuniões em casa?


Parecia um conceito que só resultaria nos Estados Unidos.

A verdade é que os portugueses têm tudo menos o hábito de reuniões estruturadas a tempo e horas, com rigor e diretos ao assunto, especialmente quando já existe um elo emocional. Preferimos restaurantes e bares para fechar negócios ou para pensar melhor no funcionamento da empresa onde trabalhamos.

Em casa, não é muito diferente.

Muita coisa se discute à hora da refeição ou ao domingo à tarde, nos intervalos dos programas de Tv.
E que mal tem, se estamos reunidos de igual forma?

Julgo que se não tivesse experimentado, não teria notado a diferença. 

Uma das técnicas fundamentais da Disciplina Positiva são as reuniões de família e obedecem a uma estrutura pré definida.

As reuniões são agendadas todas as semanas ao mesmo dia, à mesma hora, de acordo com a disponibilidade de todos os elementos da família.
Existe uma mesa vazia, um livro de atas, uma agenda ou bloco de notas e dois cargos principais (rotativos): Um Presidente que coordena toda a reunião, e um Secretário que regista e lê a ata, onde todos assinam e dá-se por encerrada a reunião.

Até soa a caso de tribunal, mas existem 2 princípios que tornam estas reuniões únicas e que devem ser assumidos, prontamente, por todos os membros da família:

 Honestidade emocional
Estarmos reunidos para discutir assuntos sérios não quer dizer que não possam existir momentos de humor ou exteriorização de sentimentos. Podem e devem existir. A reunião de família é o lugar ideal para sermos nós próprios e dizer o que pensamos sem nunca corromper a confiança, e buscar respostas ao abrigo de quem nos quer melhor que ninguém.

 Respeito mútuo
Todos assumem um papel decisor de igual importância. Estes encontros não servem para os pais pregarem sermões a filhos, nem para irmãos atirarem culpas. Servem sim, para encontrar soluções que respeitem todos os envolvidos. E é por isso que nenhuma solução deverá ser aplicada sem unanimidade. As crianças (e até os adultos) aceitam melhor os compromissos, quando contribuem no processo e concordam com a decisão final.

E na prática, como acontece?

As reuniões começam por cumprimentos e saudações.
Todos os intervenientes devem encontrar algo de construtivo ou apreciativo para dizer a cada um dos participantes. Esta condição ajuda a confraternizar e a focar nos pontos positivos do outro, tornando o ambiente mais leve e propício à cooperação, em vez da culpabilização e da competição.

Segue-se a ordem de trabalhos.
Primeiro, a avaliação e análise de assuntos anteriores. Segundo, a discussão de assuntos a resolver em conjunto.Todas as ideias são válidas de serem discutidas, e a solução encontrada deve ser experimentada pelo menos durante uma semana antes de se tornar norma.

As crianças com menos de 4 anos poderão ainda não estar aptas para participar ativamente nestas reuniões, mas devem estar presentes e ser-lhes permitido intervir por forma a aumentar o sentimento de pertença.
As intervenções devem ser moderadas pelo presidente que passará a palavra por ordem de pedido. Uma boa dica é utilizar um objeto que valide quem está a falar naquele momento, para que não possa ser interrompido por quem não esteja a segurá-lo. Uma simples caneta, lápis ou cartão colorido é o suficiente para marcar a posição.

É comum que as primeiras reuniões não corram tão bem como o esperado. E também é normal que cada família dê o seu toque pessoal. O importante que não existam fatores de distração sobre a mesa e que o ambiente seja harmonioso e transparente.

A marcação na agenda de pelo menos uma atividade familiar onde todos participem, e a distribuição de tarefas especiais (como limpar a casota do cão, regar as plantas ou colocar o lixo fora) concluem a reunião.
Uma forma de atribuir a responsabilidade destes encargos ou de escolher as atividades, poderá ser tirar à sorte um papelinho com uma das opções escrita de dentro de um pote, ao que podemos chamar, em dose de humor, o pote das surpresas.

Para o desfecho, é indispensável ter previsto uma atividade lúdica, uma sobremesa, ou algo que possa honrar a participação de todos na reunião e que satisfaça todos os gostos.

A agenda deve estar ao alcance de todos e serve para tomar nota de situações que vão surgindo no intervalo das reuniões e que gostaríamos de ver debatidos ou resolvidos.

Por exemplo, Ana é mãe de 3 meninos, com idades entre os 2 e os 10 anos. Todos os dias apanhava as coisas espalhadas pelos filhos, por toda a casa. Ficava aborrecida com aquela situação; por mais que avisasse e arruma-se, a casa continuava desorganizada. Ana estava a perder a esperança e levou o assunto à reunião. Uma das crianças teve uma ideia. Arranjar um caixote onde se colocassem todos os objetos deixados fora do lugar. Com uma regra intransponível, ninguém poderia reaver o seu pertence no espaço de uma semana.
Resultou. Resultou porque todos cumpriram com a regra e para seu espanto, Ana não queria crer na quantidade de coisas que ela própria deixava pelo caminho. E resultou melhor, porque foram as crianças a encontrar a solução.

A verdade é que, na dúvida sobre a eficácia deste tipo de reuniões, experimentei e fiquei convencida. Tenho uma filha de 6 anos e de uma primeira reunião, onde fartou-se de interromper e de sair do seu lugar, para a nossa última reunião de há dois dias atrás, revejo-lhe cada vez mais competência para encontrar soluções; mais responsabilidade e determinação a cumprir com calendários; mais confiante e disposta a partilhar as suas dúvidas e desafios, e acima de tudo, altamente motivada para estar em família.

O maior ganho está em ser uma prática que fortalece as relações familiares já que resulta a longo prazo e permite-nos partilhar intimidade, experiências e muitos bons momentos.

Sinto-me bem. Posso contar com todos. Os meus olhos brilham.

Jenny da Silva

quarta-feira, 9 de abril de 2014

O impacto do encorajamento na criança.

As crianças que são encorajadas nas suas tarefas, atitudes e desejos, quer no contexto do núcleo familiar, quer no contexto de sala de aula, são mais felizes e realizadas. Encorajar visa um comportamento positivo no futuro. Assim, ter o poder de encorajar uma criança é, sobretudo, oferecer-lhe oportunidades para desenvolver comportamentos positivos que ditam a percepção de “Eu sou capaz”; “Eu posso contribuir”; “Eu posso influenciar aquilo que se passa comigo” e “Sou capaz de fazer os exercícios que a professora pediu”.

O Encorajamento é uma ferramenta muito útil na educação dos filhos/educandos, na medida em que possibilita o ensino das competências vitais (necessárias para o sucesso e bem-estar); direciona o mau comportamento num sentido positivo e incentiva a criança na realização de tarefas do foro físico e cognitivo, aumentando assim a sua auto-estima e uma relação cordial com o mundo que a rodeia.

É de salientar que o encorajamento só é eficaz na mudança de atitude da criança, especialmente quando os pais/educadores têm a coragem de desistir de tentar motivá-la através da punição, dos sermões e de outras formas de culpabilização. Quando assimilarmos, verdadeiramente, que uma criança mal comportada é uma criança desanimada e desencorajada, estamos prontos para trabalhar em formas de a estimular. Um dos pontos de partida é o ato de encorajar.

O Encorajamento deve ser a forma mais eficaz, principalmente quando assumimos que os castigos não motivam a criança a melhorar/mudar de comportamento. Por detrás de um mau comportamento, existe uma mensagem da criança que se sente desencorajada e, nesse sentido, cabe-nos a nós agir em conformidade com essa mensagem e evitar reagir, negativamente, ao mau comportamento. É necessário estarmos cientes que somos muito mais competentes para encorajar do que para castigar!

O Encorajamento pode ser concretizado de diferentes formas, especialmente se utilizarmos uma linguagem positiva, pois esta poderá promover um tempo de “acalmia” após um conflito… se mostrarmos atitudes de cooperação na realização de tarefas, em casa ou na escola, não nos devemos esquecer de citar a célebre frase “Tu consegues, pois eu sei que és capaz!”. Não menos importante é a criação de rotinas diárias que permitam um tempo exclusivo para a criança, no qual podemos questioná-la acerca dos mais variados assuntos ao invés de “bombardeá-la” com inúmeras afirmações. O encorajamento tem como objetivo o aperfeiçoamento e não a perfeição das relações parentais, que devem ter por base os valores e os afetos.

Elogie, motive e encoraje!

Filipa Silva

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Obedecer à força ou obedecer livremente?


Obediência (do latim oboedire = escutar com atenção, de OB, “a”, + AUDIRE, “escutar”)















Leis, regras, normas, limites. Todo o ser desde que nasce, obedece. Pela necessidade de sobreviver no meio, de coabitar com o outro.
Importa-nos saber, como educadores, que tipo de obediência queremos ensinar às nossas crianças.
Obrigá-las a serem obedientes poderá afectar em larga medida, o grau de independência que irão possuir no futuro. É, por isso, importante que nos concentremos nos resultados a longo prazo para que o seu cumprimento seja eficaz e produtivo.

Resignação ou convicção?

Treinar uma criança a seguir ordens sem uma razão compreensível, só porque nós mandamos, pode ser uma verdadeira ameaça à sua orientação ao longo do seu percurso de vida. Como consequência deste comportamento submisso – primeiro à família, depois à sua sorte, uma vez incluídas no meio social externo – o seu filho(a) pode ser levado a aceitar influências, negativas ou favoráveis, mas de modo coercivo e irresponsável. Alguns poderão até dar mau uso às suas capacidades de liderança para se tornarem rebeldes.

Os pais que aplicam a obediência de modo prepotente, estão constantemente a fomentar-lhes as lutas de poder que tanto desejam evitar.
Esta sujeição, como imposição autoritária, necessária para a sobrevivência em sociedade no passado, é hoje um obstáculo à emancipação autónoma e criativa que os novos tempos exigem.

A resposta está em demonstrar a cooperação, a resolução de problemas e o respeito por si próprias e pelos outros.

Quando os pais usam os castigos ou recompensam, porque só assim serão atendidos, podem estar a indicar às crianças, que precisam de ser obedientes somente quando estão presentes. Assim, a percepção do bom ou mau comportamento passa a ser da responsabilidade exclusiva dos ‘adultos’.

É um engano crer que a medida foi bem acatada apenas pela interrupção do mau comportamento. Normalmente o que as crianças estão a decidir no momento em que são castigadas pode refletir-se nas seguintes atitudes:
- Ressentimento: ‘É injusto! Não posso confiar nos adultos! ‘
- Vingança: ‘Eles ganharam agora, mas depois vingo-me! ‘
- Rebeldia: ‘Farei exatamente o contrário porque não tenho que fazer o que me mandam. ‘
- Artimanha: ‘Da próxima vez não me apanham. ‘
- Baixa auto-estima: ‘ Eu sou uma péssima pessoa e não sei fazer nada sozinho. A menos que faça o que me dizem, nunca me darão valor. ‘

Como pais, mais do que ‘fiscalizar’ os nossos filhos, é nosso dever ajudá-los a lidar com as diferentes situações que poderão encontrar no mundo cá fora.
Não exigir obediência cega não é o mesmo que ser permissivo.
Ensine como os comportamentos apropriados e atenciosos poderão ser benéficos para os seus próprios interesses.

Existem alturas em que podemos chegar a conclusões em conjunto, outras em que a acção é mais importante que a discussão.
Por isso, se o seu filho começar a correr no meio da rua, agarre-o pela mão e diga que só o largará quando estiver preparado para andar ao seu lado. Caso recorra ao mau comportamento, desta vez, pare e diga que só prossegue quando estiver convencido de que se comportará convenientemente e em segurança. Faça-o entender que a condição será cada vez mais firme quanto pior a atitude, e cada vez mais generoso quanto melhor apreender a necessidade de seguir a regra.

Porque precisamos todos de regras e limites… mas também, de entendê-las para podermos ter ‘livre arbítrio’ perante o que nos é imposto, e para conseguirmos viver felizes e integrados em comunidade.

Jenny da Silva