terça-feira, 26 de agosto de 2014

Limites Saudáveis


Porque é que disciplinar, na maioria dos casos, é tão frustrante?

Qual é a distância que temos que percorrer até que as crianças se comprometam a respeitar os limites?

Todos nós reconhecemos a necessidade de impor limites na educação dos nossos filhos e existem muitas formas de fazê-lo.
Regra geral, decidir sobre como deve ou não uma criança comportar-se, não é o nosso maior obstáculo.
O problema está em como as fazemos obedecer a essas decisões.
Diariamente, tomamos posições que os nossos filhos não gostam, como por exemplo: não lhes compramos um brinquedo sempre que pedem, dizemos basta a demasiado tempo em frente à televisão, não os deixamos ficar até mais tarde porque chegou a hora de ir dormir.
Raras são as vezes em que existe vontade de cumprir os limites, apesar de todos já os conhecerem de cor e salteado… e a espiral das frustrações não pára de aumentar.

Porquê será que isto acontece?

Muitos pais continuam a ter a tendência de impor as suas decisões unilateralmente ou, simplesmente, deixar passar.
Depois de um dia estafante de trabalho, também nos custa ter que cumprir com as nossas obrigações e não há quem consiga seguir à risca, todos os dias, o plano que estava traçado.
A vida é imprevisível em diversas situações, especialmente quando a família cresce.
Contudo, sabemos que deve existir uma certa normalidade em seguir um ‘regime’ mesmo que isso seja a última coisa que nos apeteça fazer, até porque se não o fizermos, ninguém o fará.
Já as crianças, sempre que podem, tentam escapar das suas responsabilidades ou das suas próprias frustrações, seja pelas birras, amuos ou chorinhos. Este comportamento perpetua-se quando se apercebem que após alguma insistência, os pais acabam por fazer o ‘serviço’ mesmo que os tenham feito saltar a tampa.
Em algumas circunstâncias, somos tão óbvios no desespero, que chegamos a ditar consequências implacáveis… sem uma ponderação razoável entre consequência e grau de desobediência.
 “Este quarto está uma desarrumação! Se não estiver em ordem daqui até ao final do dia, será melhor pegar em tudo o que estiver fora de sítio e doar a uma instituição de caridade. As crianças dizem “sim, ok, entendi”. O quarto permanece desarrumado durante mais dois ou três dias e (surpresa nenhuma) os brinquedos não foram retirados e não, não tínhamos intenção nenhuma em doá-los a ninguém!
Os exageros são de toda a ordem e feitio: “Temos de ir já embora senão nunca mais voltamos a este parque!” Ou “Tens de ir tomar banho senão não vamos à casa dos primos”, quando está combinado há semanas que iriam lá jantar.
Estas situações podem ser emocionalmente muito desgastantes e por isso, tendemos a agir com permissividade, a desistir ou a prometermos coisas demasiado drásticas, que sabemos de antemão que não iremos cumprir.
Mas para que os limites tenham eficácia, devemos dizer (apenas) o que tencionamos realmente dizer e cumprir com a nossa palavra. Ou seja, precisamos de pensar antes de falar e para tal, precisamos de ter tempo para acalmar e considerarmos  as soluções racionalmente. Não devemos definir uma consequência que sabemos que não seremos capazes de acompanhar, ou que sabemos que não estamos a ser razoáveis porque estamos tomados pela raiva ou frustração.

Todos nós respeitamos melhor as regras ou limitações, se o processo de decisão tiver a participação de todos os interessados, num espírito de cooperação.

O maior risco em atribuir regras é quando não nos asseguramos se serão justas para todos.
Só com o sentimento de justiça a aposta será segura. Acredite ou não, uma das formas das crianças aprenderem a confiança é com limites devidamente justificados e consistentes para serem levados adiante.
As crianças sabem no fundo dos seus corações que, quando os pais seguem as decisões com dignidade e respeito, a confiança fortalece, precisamente, porque o que dizem podem cumprir.

Definir consequências com antecedência e ponderação, de preferência com a participação da criança, é a melhor estratégia. Em seguida, é só seguir com dignidade e respeito mútuo.

Se a criança deixar de arrumar os seus brinquedos, por exemplo, podemos concordar que seremos nós a apanhá-los e colocá-los numa caixa, numa prateleira alta por dois dias.
Um intervalo curto de tempo. Aliás, só precisa ser o suficiente para obter a devida atenção e mostrar o seu ponto de vista. Demasiado tempo levará a criança ao desânimo ou a esquecer o que fez de errado em primeira mão. Sim, ela muito provavelmente vai ficar enraivecida, lamentar e implorar. Mas nós, adultos, precisamos manter a calma, seguir adiante, e quando voltarmos a ceder os brinquedos, pedimos gentilmente: "O que precisas de fazer para mantê-los?"

Seguir adiante com o acordo é uma ferramenta poderosa paternidade, mas apenas eficaz quando o fazemos sem sermões, provocações, ou raiva.

Podemos ser gentis e firmes ao mesmo tempo… demonstrando o bom exemplo, e as crianças poderão respeitar os nossos pedidos e assumir as suas responsabilidades.
Mostrar empatia, ao mesmo tempo que damos sinais de que estamos dispostos a cumprir com a nossa palavra .

Pergunte à criança: "Qual foi o nosso acordo?“

Jenny da Silva

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