Porque é que disciplinar, na
maioria dos casos, é tão frustrante?
Qual é a distância que temos que
percorrer até que as crianças se comprometam a respeitar os limites?
Todos nós reconhecemos a
necessidade de impor limites na educação dos nossos filhos e existem muitas
formas de fazê-lo.
Regra geral, decidir sobre como
deve ou não uma criança comportar-se, não é o nosso maior obstáculo.
O problema está em como as
fazemos obedecer a essas decisões.
Diariamente, tomamos posições que
os nossos filhos não gostam, como por exemplo: não lhes compramos um brinquedo
sempre que pedem, dizemos basta a demasiado tempo em frente à televisão, não os
deixamos ficar até mais tarde porque chegou a hora de ir dormir.
Raras são as vezes em que existe vontade
de cumprir os limites, apesar de todos já os conhecerem de cor e salteado… e a
espiral das frustrações não pára de aumentar.
Porquê será que isto acontece?
Muitos pais continuam a ter a tendência
de impor as suas decisões unilateralmente ou, simplesmente, deixar passar.
Depois de um dia estafante de
trabalho, também nos custa ter que cumprir com as nossas obrigações e não
há quem consiga seguir à risca, todos os dias, o plano que estava traçado.
A vida é imprevisível em diversas
situações, especialmente quando a família cresce.
Contudo, sabemos que deve existir
uma certa normalidade em seguir um ‘regime’ mesmo que isso seja a última coisa
que nos apeteça fazer, até porque se não o fizermos, ninguém o fará.
Já as crianças, sempre que podem,
tentam escapar das suas responsabilidades ou das suas próprias frustrações,
seja pelas birras, amuos ou chorinhos. Este comportamento perpetua-se quando se
apercebem que após alguma insistência, os pais acabam por fazer o ‘serviço’ mesmo que os tenham feito saltar a tampa.
Em algumas circunstâncias, somos
tão óbvios no desespero, que chegamos a ditar consequências implacáveis… sem uma
ponderação razoável entre consequência e grau de desobediência.
“Este quarto está uma desarrumação! Se não
estiver em ordem daqui até ao final do dia, será melhor pegar em tudo o que
estiver fora de sítio e doar a uma instituição de caridade. As crianças
dizem “sim, ok, entendi”. O quarto permanece desarrumado durante mais dois ou
três dias e (surpresa nenhuma) os brinquedos não foram retirados e não, não
tínhamos intenção nenhuma em doá-los a ninguém!
Os exageros são de toda a ordem e feitio: “Temos de ir já
embora senão nunca mais voltamos a este parque!” Ou “Tens de ir tomar banho
senão não vamos à casa dos primos”, quando está combinado há semanas que iriam
lá jantar.
Estas situações podem ser
emocionalmente muito desgastantes e por isso, tendemos a agir com permissividade,
a desistir ou a prometermos coisas demasiado drásticas, que sabemos de antemão
que não iremos cumprir.
Mas para que os limites tenham eficácia, devemos dizer (apenas)
o que tencionamos realmente dizer e cumprir com a nossa palavra. Ou seja, precisamos de pensar antes de falar e para tal, precisamos de
ter tempo para acalmar e considerarmos as
soluções racionalmente. Não devemos definir uma consequência que sabemos que não seremos
capazes de acompanhar, ou que sabemos que não estamos a ser razoáveis porque estamos tomados pela raiva ou frustração.
Todos nós respeitamos melhor as regras ou limitações, se o processo de
decisão tiver a participação de todos os interessados, num espírito de cooperação.
O maior risco em atribuir regras é quando não nos asseguramos se serão justas para todos.
Só com o sentimento de justiça a aposta será segura. Acredite
ou não, uma das formas das crianças aprenderem a confiança é com limites devidamente justificados e consistentes para serem levados
adiante.
As crianças sabem no fundo dos seus corações que, quando os
pais seguem as decisões com dignidade e respeito, a confiança fortalece,
precisamente, porque o que dizem podem cumprir.
Definir consequências
com antecedência e ponderação, de preferência com a participação da criança, é a melhor estratégia. Em seguida, é só seguir com dignidade e respeito mútuo.
Se a criança deixar de arrumar os seus brinquedos, por
exemplo, podemos concordar que seremos nós a apanhá-los e colocá-los numa caixa, numa prateleira alta por dois dias.
Um intervalo curto de tempo. Aliás, só precisa ser o suficiente
para obter a devida atenção e mostrar o seu ponto de vista. Demasiado tempo levará
a criança ao desânimo ou a esquecer o que fez de errado em primeira mão. Sim,
ela muito provavelmente vai ficar enraivecida, lamentar e implorar. Mas nós, adultos, precisamos manter a calma, seguir adiante, e quando voltarmos a ceder os brinquedos, pedimos gentilmente: "O que precisas de fazer para mantê-los?"
Seguir adiante com o acordo é uma ferramenta poderosa paternidade, mas apenas eficaz quando o fazemos sem sermões, provocações, ou raiva.
Podemos ser gentis e firmes ao mesmo tempo… demonstrando o bom
exemplo, e as crianças poderão respeitar os nossos pedidos e assumir as suas responsabilidades.
Mostrar empatia, ao mesmo tempo que damos sinais de que estamos dispostos a cumprir com a nossa palavra .
Pergunte à criança: "Qual foi o nosso acordo?“
Pergunte à criança: "Qual foi o nosso acordo?“
Jenny da Silva
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