Na
rotina do quotidiano, deparamo-nos com sucessivas situações
e acontecimentos que nos levam a escolher e a decidir. Estamos permanentemente
a optar! Decidimos pelo que, segundo as nossas convicções
e ideais, nos faz sentir mais felizes e realizados.
É na infância
que surgem as primeiras situações desafiantes, nas quais as crianças
precisam de definir o que fazer ou como reagir e, consequentemente, percecionar
o que causou e quais as consequências dos seus comportamentos ou das
suas escolhas.
É necessário
fornecer ferramentas às crianças
que lhes permitam desenvolver a capacidade para tomarem decisões
conscientes, sensibilizando-as para o respeito pelos demais. Não
menos importante é permitir que as crianças
possam pensar e decidir o que fazer por si próprias
e que possam, assim explorar as consequências
das suas escolhas.
-
Como poderemos desenvolver essa capacidade nas crianças?
É urgente travar a necessidade que
sentimos em transmitir as informações, os factos e as regras que as crianças
têm
que cumprir à risca, como por exemplo: lavar aos
dentes; arrumar o quarto; fazer os trabalhos de casa; alimentar o cão,
etc.
O
que acontece, muitas vezes, é que esse diálogo
dá
lugar a um monólogo, no qual as crianças
"desligam-se" da conversa porque lhes soa a acusação
e a obrigatoriedade, tornando-se num agente passivo sem terem a oportunidade de
assumir um papel preponderante na tomada de decisões
ou nas soluções dos problemas familiares. É
muito frequente os adultos dizerem às crianças
o que aconteceu, como aconteceu, o que têm
de fazer e como o devem fazer.
-
Então,
como podemos ser mais respeitosos com as crianças,
sem recorrer ao hábito como de "encher-lhes" a
cabeça
de conhecimento de forma desajustada?
Em
primeiro lugar, temos que acompanhar e orientar as crianças
na tomada das suas decisões', sejam elas quais forem. É
importante não culpar, julgar ou atribuir uma
consequência
punitiva, como os castigos físicos (a palmada) e psicológicos
(palavras agressivas). Tendo isso em consideração,
é
preciso fazer com que as crianças percebam e assumam as consequências
das suas escolhas.
É muito mais respeitoso quando os
adultos se interessam de verdade em se relacionar e dialogar com a criança
por meio de questões com uma conotação
de curiosidade.
Perguntar
ajuda a pensar e a mecanizar ações que, por sua vez, vão
levar à
perceção
das respetivas consequências.
Vejamos
os seguintes exemplos:
- A mãe diz ao filho: "Vai já
lavar os dentes!". O filho retorquiu e tende a adiar esta tarefa como
resposta à imposição
da mãe.
- A mãe pergunta ao filho: "O que precisas de fazer
para não
ficares com os dentes sujos?". A pergunta serviu como um lembrete
carinhoso e a criança, sorrindo para a mãe,
foi mais determinado a executar a tarefa.
Entrar
no mundo da criança não
será
mais valioso do que bombardeá-la com os "porquês?".
Na
generalidade, o "porquê" remete para um tom acusatório
e deixa a criança numa posição
defensiva.
Um
outro exemplo é o de uma criança
de 11 anos que faltava sistematicamente às
aulas. A mãe, ao corrente da situação,
sentiu-se tentada a confrontar o filho e atribuir-lhe uma consequência
punitiva, como ficar sem TV ou proibir-lhe de ir ao computador por um período
de tempo. Em vez disso, decidiu dialogar com o filho por meio de perguntas
curiosas para dar-lhe a oportunidade de explorar a consequência
de não
cumprir com os deveres escolares. Começou por lhe perguntar: "O que
pretendes para a tua educação?"; "O que achas que vai
acontecer ao continuares a faltar à escola?"; "Como podemos
resolver este problema em conjunto?".
Sempre
que existir a possibilidade de fazer perguntas curiosas, é
de sublinhar que o adulto deve mostrar-se interessado no ponto de vista da
criança
e assumir que os erros são ótimas
oportunidade para todos aprenderem. Deve, ainda, criar um ambiente tranquilo e
convidar a uma conversa de confiança, entre ambas as partes, propiciando
uma maior proximidade e conexão, sem esquecer de verbalizar a
mensagem do amor.
Filipa
Silva
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