sábado, 16 de agosto de 2014

Apostar na curiosidade como um elo de afectividade.



Na rotina do quotidiano, deparamo-nos com sucessivas situações e acontecimentos que nos levam a escolher e a decidir. Estamos permanentemente a optar! Decidimos pelo que, segundo as nossas convicções e ideais, nos faz sentir mais felizes e realizados.

É na infância que surgem as primeiras situações desafiantes, nas quais as crianças precisam de definir o que fazer ou como reagir e, consequentemente, percecionar o que causou e quais as consequências dos seus comportamentos ou das suas escolhas.
É necessário fornecer ferramentas às crianças que lhes permitam desenvolver a capacidade para tomarem decisões conscientes, sensibilizando-as para o respeito pelos demais. Não menos importante é permitir que as crianças possam pensar e decidir o que fazer por si próprias e que possam, assim explorar as consequências das suas escolhas.

- Como poderemos desenvolver essa capacidade nas crianças?

É urgente travar a necessidade que sentimos em transmitir as informações, os factos e as regras que as crianças têm que cumprir à risca, como por exemplo: lavar aos dentes; arrumar o quarto; fazer os trabalhos de casa; alimentar o cão, etc.
O que acontece, muitas vezes, é que esse diálogo dá lugar a um monólogo, no qual as crianças "desligam-se" da conversa porque lhes soa a acusação e a obrigatoriedade, tornando-se num agente passivo sem terem a oportunidade de assumir um papel preponderante na tomada de decisões ou nas soluções dos problemas familiares. É muito frequente os adultos dizerem às crianças o que aconteceu, como aconteceu, o que têm de fazer e como o devem fazer.

- Então, como podemos ser mais respeitosos com as crianças, sem recorrer ao hábito como de "encher-lhes" a cabeça de conhecimento de forma desajustada?

Em primeiro lugar, temos que acompanhar e orientar as crianças na tomada das suas decisões', sejam elas quais forem. É importante não culpar, julgar ou atribuir uma consequência punitiva, como os castigos físicos (a palmada) e psicológicos (palavras agressivas). Tendo isso em consideração, é preciso fazer com que as crianças percebam e assumam as consequências das suas escolhas.
É muito mais respeitoso quando os adultos se interessam de verdade em se relacionar e dialogar com a criança por meio de questões com uma conotação de curiosidade.
Perguntar ajuda a pensar e a mecanizar ações que, por sua vez, vão levar à perceção das respetivas consequências.

Vejamos os seguintes exemplos:
 - A mãe diz ao filho: "Vai já lavar os dentes!". O filho retorquiu e tende a adiar esta tarefa como resposta à imposição da mãe.
 - A mãe pergunta ao filho: "O que precisas de fazer para não ficares com os dentes sujos?". A pergunta serviu como um lembrete carinhoso e a criança, sorrindo para a mãe, foi mais determinado a executar a tarefa.


Entrar no mundo da criança não será mais valioso do que bombardeá-la com os "porquês?".
Na generalidade, o "porquê" remete para um tom acusatório e deixa a criança numa posição defensiva.
Um outro exemplo é o de uma criança de 11 anos que faltava sistematicamente às aulas. A mãe, ao corrente da situação, sentiu-se tentada a confrontar o filho e atribuir-lhe uma consequência punitiva, como ficar sem TV ou proibir-lhe de ir ao computador por um período de tempo. Em vez disso, decidiu dialogar com o filho por meio de perguntas curiosas para dar-lhe a oportunidade de explorar a consequência de não cumprir com os deveres escolares. Começou por lhe perguntar: "O que pretendes para a tua educação?"; "O que achas que vai acontecer ao continuares a faltar à escola?"; "Como podemos resolver este problema em conjunto?".

Sempre que existir a possibilidade de fazer perguntas curiosas, é de sublinhar que o adulto deve mostrar-se interessado no ponto de vista da criança e assumir que os erros são ótimas oportunidade para todos aprenderem. Deve, ainda, criar um ambiente tranquilo e convidar a uma conversa de confiança, entre ambas as partes, propiciando uma maior proximidade e conexão, sem esquecer de verbalizar a mensagem do amor.


Filipa Silva

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