quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Usar o afecto como meio para educar de forma positiva.

- "A minha filha fez uma fita no outro dia quando eu lhe disse que tinha que entrar no carro."
- "O meu filho jogou as peças de LEGO à televisão, só porque eu lhe disse para desligá-la."
Apesar dos pais serem bem-intencionados e de se esforçarem em educar positivamente, as crianças podem ainda assim vir a ter algumas teimosias. Os seus cérebros imaturos não têm a capacidade de manter a calma perante alguns sentimentos difíceis. “Salta-lhes a tampa” facilmente; as funções superiores do cérebro do córtex pré-frontal, como a lógica e raciocínio, ainda não são totalmente capazes de entender as emoções sentidas no cérebro intermédio.                                                   

Isto ajuda a perceber o que se passa nestas pequenas e jovens mentes para que os pais consigam lidar da melhor maneira de com uma situação difícil.

Sendo a disciplina positiva uma forma de educar não punitiva eficaz - porque as punições não funcionam e enfraquecem a relação familiar – muitas das ferramentas desta forma de educar estão centradas no uso do toque.
Afeição física é tão importante para as crianças, uma vez que tem um efeito sobre a química do cérebro, propicio ao comportamento positivo.

Como Dra. Jane Nelsen costuma dizer: "As crianças fazem melhor, quando se sentem melhor."

Ser pró-ativo:

Não espere que seja a criança a dirigir-se a si para o tocar, abraçar, dar beijinhos.
Ser fisicamente afetuoso com os seus filhos, não importa em que altura da vida, ajuda a manter uma ligação emocional de partilha até a uma idade tardia.
O toque liberta a reação em cadeira de substâncias químicas cerebrais (opióides, a oxitocina, serotonina) ativas e torna o vínculo pai-filho mais forte, fazendo com que a linha entre o pedido e a exigência fique cada vez mais ténue e a disciplina mais eficaz.

Algumas formas de ser carinhoso fisicamente com as crianças numa base regular incluem:

Abraços ou Chi-corações:
Quanto mais jovem for a criança, mais natural e mais frequente é estar fisicamente próximo. Como ainda são pequenos, ainda existem muitos colinhos, mãos dadas, ajudas para levantar, etc. As crianças crescem e tornam-se mais independentes e as oportunidades para o toque vão diminuindo. É aqui que é fundamental um maior esforço para arranjar formas de relacionar fisicamente.
Ler-lhe um livro no sofá ou na cama é já uma forma de ficar mais próximo ou até mesmo ver uma série de televisão juntos incentiva o abraço e o aconchego.

Jogo físico:
Tal como acontece com outros tipos de toque, jogo físico também liberta certos compostos químicos no cérebro, promovendo o comportamento positivo. Jogos de pessoa para pessoa como a apanhada, as cavalitas ou até mesmo o wrestling, muito apreciado pelos rapazes. Este tipo de contactos inibe naturalmente o comportamento impulsivo, fazendo a criança assentar mais e aumentar a sua atenção num único foco. Estes jogos podem trazer maior proximidade familiar duma maneira divertida e física.

Cócegas:
Quando em excesso, não são recomendadas como um meio eficaz para o jogo físico positivo. Embora possam ser uma forma habitual para os pais fazerem as crianças rir, às vezes por serem de resposta rápida, mas  as cócegas podem ser traiçoeiras e até dolorosas. Também podem tornar-se problemáticas uma vez que não permitem as crianças mostrar quando parar e quando o pedem e porque respondem as cócegas rindo, não são capazes de dizer que realmente não estão a gostar. Ainda, as cócegas podem ser prejudiciais no longo prazo para a aceitação da criança de afecto físico positivo. Cócegas sim, mas com cuidado!

Toque emocional:
Se pedir naturalmente para os seus filhos falarem sobre o seu dia a dia, os seus amigos, os seus interesses, algures verbalmente consegue tocar em certos pontos que os fazem sentir especiais ou que os ajudarão a reflectir sobre as soluções a certos problemas. Contudo esse toque poderá acontecer também fisicamente.
Por exemplo, quando os seus filhos, ou porque tiveram um dia complicado ou porque alguma insegurança os assombra, precisam de um toque de base. Aquele toque, na face expressando o entendimento, o colo seguido do toque no cabelo transmitindo o conforto, agarrar as suas mãos nas nossas para demonstrar-lhe coragem, ou o braço ao longo das costas afirmando companheirismo, no momento certo faz toda a diferença como força e apoio que a família representa em alturas mais complicadas.

Usar o toque como estratégia reativa.
Tocar acalma e reforça o vínculo emocional entre pais e filhos. Quando as crianças tocam um pai calmo de uma maneira amorosa, o equilíbrio químico dentro de seus cérebros começa a ser restabelecido; a sua neura começa a fechar-se novamente. Cérebros humanos estão equipados com uma espécie de neurónios “espelho”, que se comunicam para imitar o estado emocional do ambiente. É por isso que o riso pode ser contagioso, assim como o stress e até mesmo o sentir-se triste ao ver a outra pessoa triste ou a chorar.

Tácticas:
1. Dar um abraço a uma criança que está histericamente a jogar tudo cá para fora, dado o seu descontrolo emocional, pode não ser a primeira coisa que nos vem à cabeça. É mais provável apetecer-nos gritar juntamente com a criança! Mas um abraço seguro e quente durante um momento de caos emocional pode funcionar maravilhosamente na direcção acertada. O contacto físico do corpo de um adulto maduro – que controla as emoções -  ajuda a confortar um corpo imaturo – ainda incontrolável.
Restaurar o equilíbrio no cérebro de uma criança é o primeiro passo para poder existir uma conversa racional e para que se possam resolver os problemas juntos.

2. Estar na mesma conversa: A grande parte da disciplina positiva é a cerca de ouvir para compreender. A escuta eficaz envolve mostrar empatia, validando os sentimentos de uma criança, e demonstrando aptidões de escuta activa. Todos os dias, os pais têm a oportunidade para comunicar com seus filhos e se relacionarem com eles com palavras, expressando compreensão sobre o que eles estão a passar e o que estão a sentir.
Além do elo verbal deve-se acrescentar o elemento de toque. Os pais poderão fazer as suas palavras ainda mais eficazes quando simplesmente baixarem ao nível dos olhos dos seus filhos e lhes derem as mãos. Da mesma forma, uma mão suave colocada no ombro de uma criança dá às palavras mais impacto. Estas duas posturas querem dizer sem palavras que você está 'lá' para o seu filho.

3. Acalmar os excessos de carência: Algumas crianças podem sentir-se demasiado estimuladas e passarem a sustentar-se no toque excessivo, chegando a ser verdadeiramente incómodas.
Para estes casos, a criança deve aprender a estar sozinha, colocando-a num espaço isolado, encorajando-a a brincar com algo que a entretenha por si mesmo. Para uma criança extra sensível faz bem ganhar alguma independência emocional, até que um dos pais venha, e seja um deles e não a criança, a aproximar-se ao contacto físico.

4. Pressão muscular: Existem alguns tipos de actividades que aplicam a sensação de uma maior pressão ao corpo e que podem ser muito estimulantes. Para muitas crianças essa sensação é bem-vinda e ajuda a relaxar as mentes mais impulsivas.
Para muitas pessoas (crianças, assim como os adultos), uma massagem profunda sobre a pele é agradável e funciona como um apaziguador de um esforço final.
Outra formas não convencionais de exercer a mesma pressão para acalmar os nervos da criança podem incluir piscinas de bolas, puffs, cobertores acolchoados, etc. Algumas crianças ainda gostam de ser enroladas e desenroladas dentro e fora dos tapetes por causa da pressão. Quando as crianças recebem a informação sensorial que anseiam, as suas mentes e corpos são mais eficazes a comunicar.

Então, se uma criança arremessa uma peça de LEGO à televisão ou faz uma birra na hora de entrar no carro, não é nada pessoal. É toda uma química cerebral e relação emocional. E quando essa afeição física é combinada a estratégias de disciplina positivas, a educação parental assume um novo nível de eficácia.

Pais e filhos são capazes de comunicar verbalmente, assim como fisicamente, melhorar a sua interacção e reforçar as suas relações, mesmo em momentos complicados.

Texto traduzido e adaptado para português:
Bartlett, Kelly – “How physical affection helps with discipline".

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